Thursday, May 31, 2007

O Elixir Da Moderna Juventude

O elixir
É uma poção que se bebe
Para tudo deixar de doer,
Para as lágrimas não caírem.
O elixir é uma fuga
É uma cura
Um consolo;
Só o bebe
Quem está farto
Da vida.
Só o pede
Quem quer
Beijar o fogo…

Lisboa, 04/03/92

Wednesday, May 30, 2007

Numa Qualquer Estrada Nos Sentidos…

Numa qualquer estrada
No sentido que me leva às obrigações,
Todos os dias,
Sempre que passo,
Há um menino segurando um balão.

Esquecendo por espaços os deveres,
Há a alegria de ver um menino segurando um balão
E gozando completamente,
Sem ter em mais que pensar,
A presença física do balão controlado por ele
Esvoaçar no firmamento.

Depois, continuo o meu caminho;
E longe já da imagem desse menino,
Na sua inocente e perfeita felicidade,
Sem máscaras nem obrigações,
Há a tristeza de saber
Que nem todos os meninos sabem
O que é um balão
E o que podem fazer com ele
E tudo o que um balão representa.

E muito mais triste que tudo isso
É a certeza clara,
Provada pela experiência,
Que esse menino, em breve,
Vai esquecer o balão
E com certo prazer vai usar uma máscara
E com um certo orgulho vai ter uma obrigação
E com toda a responsabilidade do Mundo
Vai ser infeliz…

(…)

Eu desisti de todas as obrigações;
Por isso não corro mais aquela estrada incerta
E a criança perdeu-se além do meu olhar.

Sempre que olho o céu
Procurando um sinal,
Na esperança ainda de ver o balão,
Não vejo mais do que os pássaros.

Ó tu que tens nojo da máscara
E desprezas como eu as responsabilidades!
Ó tu a quem faz falta a altura em que nada
Havia que pensar!

Se acaso correres a mesma estrada
E encontrares nela a criança,
Diz-lhe que não esqueça
A magia sublime de segurar um balão!
Assusta-a com a tua máscara
Como se fora o papão
Que ela de noite teme,
Como se fora a bruxa horrenda com que treme,
Como se fora Deus a vomitar!
Mostra-lhe os reveses da bonança!

Onde há a calma, há mudança,
Há tempestade no mar
Há tempestade no mar...

Lisboa, 11/05/93

Tuesday, May 29, 2007

Scribo Ergo Sum!

Este livro que tens fi-lo de versos;
Um cofre de absurdos pensamentos;
Um alfarrábio negro de dispersos
E entrecruzilhados sentimentos.

É uma árvore seca cujas folhas
Caíram logo, à vinda do Outono,
E foram soçobrando. Tantas escolhas
Falhei por entre as dúvidas e o sono!

E assim ando! Por casa de mágoas,
Que tinha à porta uma velha tranca
Que algum descuidado atirou fora!

Entraram pela porta jorros de água
Que a esponja da lógica não estanca.
Ó fim que há tanto espero, é a hora!

Lisboa, 07/01/94

Monday, May 28, 2007

As Últimas Palavras do Imperador de Tudo

O meu jardim suspenso foi plantadoo no Livro do Destino.
Se fui eu que o sonhei não fui eu que o fiz.
Há muito que essa maravilha se extinguiu;
Mas a sua memória há-de ser Eterna.
Eu sou Filipe, Dário, Xerxes, Alexandre, César.
Todos os grandes conquistadores do Mundo passaram os seus sonhos por mim
E através desses sonhos nos fizemos grandes.
Aqui, em Babilónia,
Onde a alma de cada um se guia pelo vento
E segue a sua sombra,
Eu,
O Imperador Absoluto de Tudo,
Rei Indestronável das Nações dos Mares Daqui e D'Além,
Dos Vivos e dos Mortos,
Do Mal e do Bem,
No seio do Labirinto onde se lavra o Mistério
E a Noite imensa se desvenda,
Deixo,
Por testamento,
A minha ossada ao Mundo:

Ousei porque me fiz do meu próprio desejo.
Venci porque tentei o que a vontade manda:
Tudo o mais, na vida, é infecundo.

Lisboa, 28/05/07