Numa qualquer estrada
No sentido que me leva às obrigações,
Todos os dias,
Sempre que passo,
Há um menino segurando um balão.
Esquecendo por espaços os deveres,
Há a alegria de ver um menino segurando um balão
E gozando completamente,
Sem ter em mais que pensar,
A presença física do balão controlado por ele
Esvoaçar no firmamento.
Depois, continuo o meu caminho;
E longe já da imagem desse menino,
Na sua inocente e perfeita felicidade,
Sem máscaras nem obrigações,
Há a tristeza de saber
Que nem todos os meninos sabem
O que é um balão
E o que podem fazer com ele
E tudo o que um balão representa.
E muito mais triste que tudo isso
É a certeza clara,
Provada pela experiência,
Que esse menino, em breve,
Vai esquecer o balão
E com certo prazer vai usar uma máscara
E com um certo orgulho vai ter uma obrigação
E com toda a responsabilidade do Mundo
Vai ser infeliz…
(…)
Eu desisti de todas as obrigações;
Por isso não corro mais aquela estrada incerta
E a criança perdeu-se além do meu olhar.
Sempre que olho o céu
Procurando um sinal,
Na esperança ainda de ver o balão,
Não vejo mais do que os pássaros.
Ó tu que tens nojo da máscara
E desprezas como eu as responsabilidades!
Ó tu a quem faz falta a altura em que nada
Havia que pensar!
Se acaso correres a mesma estrada
E encontrares nela a criança,
Diz-lhe que não esqueça
A magia sublime de segurar um balão!
Assusta-a com a tua máscara
Como se fora o papão
Que ela de noite teme,
Como se fora a bruxa horrenda com que treme,
Como se fora Deus a vomitar!
Mostra-lhe os reveses da bonança!
Onde há a calma, há mudança,
Há tempestade no mar
Há tempestade no mar...
Lisboa, 11/05/93
Wednesday, May 30, 2007
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