Vamos ficar os dois
A imaginar,
A pairar,
Sobre um vácuo indefinido,
No incerto de algo
Que não existe,
A poisar os olhos um no outro,
Sem nos mexermos,
Sem sonharmos,
Sem nos tocarmos,
Sem nos comermos
Com os olhos
E com o corpo,
Como loucos
Canibais esfomeados?
O amor é o amor – e depois?!
Vamos ficar aqui,
Quedos,
Mudos,
A tentar defini-lo,
Em vez de o usarmos,
De o descobrirmos,
Neste Mundo de Sonhos
Que podemos tornar
Só nosso?
O amor é o amor – e depois?!!
Esquece.
Esquece tudo.
Vive o sonho comigo.
Vamos encher o ar
Que nos rodeia,
Vamos torná-lo
nOSSO e só nOSSO,
De mais ninguém. –
O meu peito contra o teu:
Vamos ver quem vence numa guerra de almofadas.
Vamos! Continua! Não importa se as roupas estão rasgadas!
O meu peito contra o teu:
Cortando o ar,
Bebendo o mar
Que enchemos,
Que roubámos ao espaço.
Temos isto que temos.
Temo-nos aos dois,
Temos um leito
Grande,
Enorme;
Temos este laço,
Que nos pode prender e amarrar.
Por quanto tempo?
E que importa sabê-lo?
Estarmos juntos enquanto estamos juntos
É bastante.
Forçar o amor é torná-lo disforme.
Tê-lo
É vivê-lo
Sem o pressionar.
E por ora
Somos tudo,
Sem medo:
E há todo o espaço para amar!
Temos o espírito que temos.
Temos o objectivo que é nosso
E só nosso,
Como tudo o que era nosso anteriormente…
Somos todos,
Somos vários,
Somos um grupo de gente;
E somos um,
Dois,
Somos mais do que dois…(e)…
O amor é o amor – e depois?
Lisboa, 15/04/96[1]
[1] Nota do Autor: De um poema de Alexandre O’Neill.
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