Friday, August 10, 2007

Teorema Protestarial I

Mudar de roupa?
Ora!
Dizes que a reunião vai começar em breve?
Estou farto de reuniões, de ajuntamentos:
Hoje não quero reunir com ninguém.
Vai haver festa, ãh?
E bebidas, e aperitivos… sim senhor; folgo muito em saber.
E os aperitivos são aquelas doses de comida servida em pequenas quantidades,
Que se rodam pela mesa como se de uma prova se tratasse, não é?
Tivesse tido disso antes de vir para a vida
E teria sabido evitá-la.
Agora é tarde.
Porque não falaste nisso mais cedo?
Mas já nos conhecemos há muito, não é?
Já sabemos os dois como gostamos de apanhar o outro
Distraído das coisas,
Com o corpo adormecido,
Com a razão amarrada atrás das costas…
Não.
Não vou mudar de roupa.
Com muito esforço,
Se me quiserem tanto, vou mesmo assim como estou;
Senão vão todos para o Diabo!
Desperdicem-se inteiramente ou deixem-me desperdiçar-me
Sem ter quem me aborreça:
Ajuda me dão
Se me tirarem esta dor de cabeça
Que aumenta só de saber
Que tenho de ter por horas o corpo entalado num fato preto
A dar apertos de mão a pessoas vazias,
De mãos frias,
Com a vida parada,
Com o interesse gasto.
Não gosto de apertos de mão.
Nada se modifica no Mundo por apertar a minha mão a alguém –
E de que serve um gesto
Se não causar alterações no Universo?
Já sabes.
Não teimes mais comigo.
Não visto nenhum fato.
Vem mas é ajudar-me a tirar estas roupas:
Tira-me tudo o que estiver a mais no que sou.
E não me sinto ser –
Haverá possibilidade de me despires de mim próprio?
Não peço para ser o outro porque o outro também quer ser Eu.
E desejar-me a mim mesmo seria absurdo e absolutamente antagónico.
E bem sabes que não gosto de antagonismos.
Mas chega-te cá.
Traz-me esse licor.
E enche bem o copo, até acima;
E vem cá – vem dar-me o copo à boca:
Quando chegar ao fim
Por certo findou a dor –
Se pudesse também findar a vida!

Ah! Mudar de roupa??!…

Lisboa, 18/02/01

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