Friday, August 10, 2007

Estado do Tempo

I

Chovem flores e setas baralhadas
Lançadas por cupidos delirantes
Que vão abrindo e vão fechando as asas
Em grandes tragos sôfregos de brandy.

Chovem ideias bruscas e espaçadas
Por entre os intervalos estonteantes
Do silêncio das pedras da calçada,
Do longo frio das noites inconstantes.

Chovem gatos pretos pelos cantos,
Do cimo dos telhados estilhaçados,
Pelas pedras letárgicas do espanto.

Chove-me um acre néctar de amargura
Dos meus dois olhos negros alagados
Pela borrasca agreste da Loucura…

Lisboa, 12/10/97

II

Sou Prisioneiro de Horas que Contemplo
Pelas grades desta triste cela
Onde me encerraram (quem me vela?)
Sem um motivo, sem um Julgamento.

Sou vítima de usar o Pensamento
Para entender o Rei que me esfarela,
Que me desfaz qual cera de uma vela,
Impondo-me o seu Reino Pardacento.

Sou servo do Regime que me gela,
Sombra de mim cedendo ao Desalento,
Mastro agrilhoado por cem velas…

Sou escravo consciente do Tormento
Imposto pelos Astros, pelas Estrelas,
Pelo Estado Déspota do Tempo.

Lausanne, 02/12/04


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