Friday, July 20, 2007

Declaração

I

«Não… Não vás já…
Gostava que esperasses.
Gostava que ficasses
Mais um pouco.
Talvez te zangues – Não te zangues.
Talvez me ignores – Não o faças.
Talvez me julgues louco – Não o sou.
Talvez um dia entendas o que é estar como estou –
Mas não sendo comigo,
Que benefício me traz?

Abraça-me – Porque não me abraças?

Todos dão vivas ao Mundo.
Tu dás vivas ao Mundo.
Tu queres ter o Mundo.
Eu desejo apenas o jazigo
E a paz.

Mas não foi por isto que te pedi que ficasses;
Gostava de dizer-te que… Bem… Sabes… Sinto e…
Aquilo que por vezes nós podemos…
Aquilo de que nunca nos esquecemos…
Vem doendo e…
Espera! Só mais um segundo!

Ah!, E eu que quero apenas ser feliz!
Será isso assim tão absurdo?!»

Lisboa, 13/05/94

II

«Estranho, o estar aqui, pensando uma Utopia…
Saber que é isso e ter sabor a pouco.
Ver o mesmo céu dia após dia,
Ter tédio dele e desejar um outro…

Estranho também o estares aqui comigo,
Eu, o eterno sonhador,
Que tenho o Impossível como abrigo
E o Caos como Deus meu criador;

Estranho ser estranho e eu já estar diferente;
Tu teres partido e eu falar sozinho;
Poder estar só ou existir mais gente;
Morrer de inércia, escolher ter um caminho…

Estranho o silêncio quando baixa a noite,
E se mantém quando sobe o sol:
Eu falo, nós falamos, muito afoitos,
E um tenebroso silêncio nos engole.

Estranho ficar quando todos partem,
Estranho eu amar se só há ódio em mim.
Ser eus que se baralham e repartem,
E jogam poker apostando um fim…»

Lisboa, 08/01/01

III

(Risos)

«Idiotices…

O que me interessa isso?
Não é normal, perfeito. Tanto se me deu.
De qualquer modo, estou sempre contrafeito.
Que é o que fiz?
Um gesto! Aconteceu…

De que me serve então preocupar-me?
Tudo é penúria, tudo é exaustão.
A partir daqui vou ausentar-me
Do pensamento e da sensação.

Assim, neste decreto do absurdo,
Declaro hoje, aqui, em frente a mim:

Vou dormir para sempre: Que me importa o Mundo?
Cortar os pulsos: Deixar saír esse veneno imundo
Que me faz respirar tão malamente,
Que me faz suar com ple ta men te…

E ficar pálido e frio como o marfim! …

Bruxelas, 26/05/04

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