I
Ainda o Sol não tinha bem pousado
Sobre os telhados altos destas casas
E já eu impaciente, abotoado,
Te esperava com o coração em brasas.
Vieste: Esplêndida! Linda! Deslumbrante!
Lembro ter ficado sem palavras.
E com o passo lento e trem’licante
Fui beijar-te as mãos bem perfumadas.
Podias ter sorrido com o ar frio
E superior de muito mulherio
Tomando-te Raínha dos Mortais:
Mas tomaste antes o meu rosto caído
E com um olhar mais terno que Cupido
Beijaste-me até não poderes mais…
II
Ser Humano
É sonhar.
Nós dois sempre tivemos consciência
Dessa verdade óbvia mas velada.
Do chão plano
Brota este pilar:
O nosso amor, firme e em emergência
Como uma flor de campo, bem plantada.
Porque por nós passaram poucos sóis
E construímos juntos esta casa
Reclamamos para nós todo o espaço em redor
E sentimos a força de milhares de homens:
Somos novos, somos tudo:
Somos os donos do Mundo.
Fazemos parte do campo onde pascem os bois,
Somos um pouco do pássaro de que ganhamos asas:
Germinamos em nós aquela flor
D'onde tudo surgiu e onde todos comem…
III
Nós dois
Não acreditamos no Destino.
Não fazemos parte deste Mundo de tolos.
Nós dois
Tocamos com nossas mãos o sino
Que tranforma em risos os antigos dôlos.
Nós dois
Estamos para além dos outros
E acima do comum desgosto que aí passa;
Nós dois
Escapamos lestos do sufôco
Causado pela junção bestial das massas.
Nós dois
Tomamos de nós o máximo tempo
Porque não fugimos de ninguém, porque tudo está certo.
Nós dois
Abrimos as portas do nosso convento
E rezamos ao Amor a céu aberto.
Nòs dois
Ascendemos para além destes muros
E somos e estamos para lá da Hora.
Nós dois
Vivemos com as almas no Futuro
E é lá que a nossa vida se demora.
E mais extraordinário que isto tudo,
O que ficará para depois,
É que tu não desgrudas, eu não desgrudo,
E nunca fomos dois…
Lisboa, 19/12/96
Thursday, July 12, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment