Tuesday, July 17, 2007

No Fio da Meada

I

No fio da meada está o desespero.
Por isso eu vou cortar o fio.
No fio da meada está um barco negro
Descendo por um rio.

No fio da meada está a minha fome
De ser grande como o firmamento.
No fio da meada está escrito o meu nome
Que é mais pequeno do que sou por dentro.

No fio da meada está esta certeza
De ter a vida sempre amordaçada.
No fio da meada ganho essa destreza
De tirar pedras de qualquer entrada.

No fio da meada busco a alegria
Que não sei porquê me vem faltando.
No fio da meada dou as mãos ao dia
E para a minha festa o vou chamando.

No fio da meada mora essa vontade
Que faz de um mendigo um Imperador:
No fio da meada encontro a Liberdade
E o amor, e o amor, e o amor!

II

Parca, eterna Parca, da mentira velada:
É meu o meu Fado, tu não
Fias nada.

Parca, triste Parca, de Horácio e Homero:
Não terei caixão:
Eu sei o que quero.

Parca, feia Parca, tão vil e mesquinha:
Tu nada acometes:
Eu comando a linha.

Parca, grossa Parca, horrenda e temida:
Já medo não metes:
Eu mando na vida!

Lisboa, 02/04/01

No comments: