Chegaste e eras ar, agora sei
Que era só ar o rosto que tiveste.
Pois no oráculo dos teus olhos decifrei
O medo, a raiva, a fome, a sede, a peste.
Talvez já estejas morta e eu, aqui,
Procure o teu corpo à tona d’água;
Mas só porque te olhei e não te vi
Tu vens ao cimo e não me dizes nada.
Talvez seja eu o morto e tu, ao lado,
Não tenhas mãos para me abrir a porta
Nem haja porta, mesmo, para abrir.
Talvez sejamos nada, simples fardos
E este fogo que arde desde a aorta
Seja o desprezo que sinto em existir...
Lisboa, 28/02/00
De um Poema de Natália Correia
Friday, July 20, 2007
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