Wednesday, July 25, 2007

Na Gare A Que Chamam Fim...

I

Próxima Partida: Anunciação.
Na Gare da Vida, Via d’ Aflição.

Lausanne, 30/11/04

II

Quando acabar este Mundo
Estarei, contigo, a teu lado,
Com um bom vinho maduro
(Meu salmo de cabeceira)
E os velhos sonhos dobrados
Na algibeira.

Quando acabar esta noite,
Virá um dia mais escuro,
Sem sol que brilhe e se afoite:
Sobra a noite que resiste,
Fica o Horror, esse muro
Denso e triste.

Quando acabar esta vida,
Virá a Morte Incansável,
Com a sua mão decidida,
No seu cavalo montada,
Colher o ser Miserável
Que é nada.

Quando Eu, o triste, acabar,
Já quando não houver Mundo,
E nada tiver lugar,
Não virás tu do Vazio
Suster meu corpo desnudo,
Roxo e frio.

Quando acabar este sonho,
Já quando não houver céu,
E todo o ar fôr medonho,
Sobre um deserto de dó,
E em tudo reinar o breu,
Estarei só…

Lisboa, 02/12/96
III

Oh!, estrelas que o céu perdeu,
Eu nasci p’ra ser sozinho!
Esta teia em que definho,
Que aranha negra a teceu?

Lausanne, 29/11/04

IV

Oh estrelas que o céu perdeu,
A teia que me prendeu
É a Vida, O Grande Nó.

Que aranha negra a teceu?
Estará nela a mão de Deus
Ou a sensação com que sou?

Eu nasci p’ra ser sozinho,
P’ra me rojar no caminho
Que o Destino me forçou.[1]

Esta teia em que definho,
Das minhas ânsias, o ninho,
Desde sempre me encerrou.

Conhecer o fim do Mundo,
Indo em mim mesmo ao mais fundo,
Roendo o horror que restou,

É o meu dever imundo
De Eterno Vagabundo.
Que demónio me criou?


V

Desconheço qual o monstro,
Não reconheço o meu rosto,
Não sou ninguém ou sou outro,
Eu nem sei que aconteceu…

Lausanne, 29/11/04

IV

Foi o Tempo que passou,
Foi o Tempo que passou,
Foi o Tempo que passou,
Mas quem viveu?

Lisboa, 04/07/01

V

Não fui eu,
Não fui eu…
Algo em mim me abandonou,
– Foi a razão?
– Não. Fui eu…

Lisboa, 15/07/01

VI

Por entre o frio da estação
Onde passam os comboios
Vi um rosto familiar:

Era a minha Sensação:
Tinha lágrimas nos olhos,
E uma expressão de pesar.

– De onde te vem a tristeza?
Porque fugiste de mim? –
Perguntei-lhe estarrecido.

– Eu vivo na Incerteza,
Entre o Princípio e o Fim.
Sentir e ser sem ter sido!

Tudo na vida é tão vago!
Tal como este nevoeiro…
E ser forçada a sentir!

Pudesse só ser um prado
Desde Janeiro a Janeiro!
Pudesse nunca existir!

Lausanne, 30/11/04

VII

Ah!, comboio da vida ! O teu embarque
Deixou-me sem ter forças que o abarque,
Quebrou-me o coração que ainda se parte,
Deixou-me com a razão ‘inda a pensar que…

Lausanne, 30/11/04

VIII

Pudesses não arrancar!,
Pudesses ficar na gare,
Nunca ligar o motor!

Mas já se ouve um apito,
Ao fundo da linha um grito…
E vais a todo o vapor…

Lausanne, 30/11/04

[1] Nota do Autor: Versão Alternativa: Que a minha angústia moldou.

No comments: