Sonhar é cavalgar por entre as estrelas,
Pôr uma cerca em volta do Infinito,
Fazer parte das coisas e bebê-las
Como quem bebe um cálice proscrito.
Sonhar é navegar sem tempestade,
Partir, zarpar de todas as nascentes,
É iludir o dogma da Verdade
E a sensação de Morte nos Poentes.
Fechar e abrir os olhos num segundo!
Partir sem ter atrás obrigações!,
C’o coração rindo em redor do Mundo,
C’ o corpo inteiro em celebrações!
Ah!, poder ser maior que o firmamento!,
Maior que as águas em exaltação,
Maior que o Homem que guardamos dentro!:
Ser-se senhor da sua condição!
Ah!, eu sonhar abrir uma janela
Que dê para a avenida ou para um rio,
E desse gesto simples ver por ela
O dissipar das chagas do vazio…
Ser alma inteiramente, o interior
Do Universo, Reino dos Sistemas,
E nesse campo recolher a flor
Que será fruto, como nos poemas…
Oh, sim!, sonhar, sonhar, sonhar Amor!,
Ter paz nos dias, mesmo que pequena,
E imaginar que apesar da dor,
Viver, esse tormento, vale a pena…
Lisboa, 04/12/96
II
E acordar depois, com o sonho por metade,
E ver o peso bruto da verdade…
Que pena!
Lausanne, 29/11/04
III
Estava à janela do sonho
A ver passar os soldados,
A ver tombar os poentes
Entre dois lagos parados.
Estava à janela do sonho,
Como à janela da vida,
Criando mundos de gente
Bem mais humana e mais viva.
Estava à janela do sonho,
Como à janela de mim,
Jogando às cartas com os dias,
E apostando no Fim.
Estava à janela do sonho,
Mas veio um vento de norte –
Logo fechei a janela –
Mas tinha entrado: Era a Morte.[1]
Lausanne, 29/11/04
[1] Nota do Autor: Versôes alternativa: Mas acordei: Era a Morte. /Mas foi já tarde: Era a Morte.
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