Saturday, June 2, 2007

Análise

Estou só. Analisemos este factor
Sociológico.
Jazo em frente à janela onde sei
Pousa um vaso;
E no vaso uma flor. Grande fortuna
A imanência!
Felizes são as plantas que podem
Colher a luz!
Tivesse eu o arrojo de me erguer
Desta cadeira!
Ganhasse eu a vontade de correr
Todo o Espaço
Como por vã necessidade corro
Os corredores
Imensos desta casa escura! Dão novas
Nas notícias
Da feliz pacificação do Mundo,
Da alegre
Comunhão perfeita e Cristã de todas
As coisas. Ah!,
Pudesse eu comungar comigo próprio!
No coração
O jazigo. Triste noção que o Homem
Tem da vida!
Infeliz consumação das horas! O ócio
Perdeu-se;
Seja qual for o sentido. A Igreja,
Os delatores,
Que se julgavam, há muito, perdidos
Na História,
Ressurgiram com grandes fogueiras
Inquisitoriais[1]
Onde a população mundial arde
Conjuntamente.
Tristeza de ter a Morte e simultânea
Alegria
De se morrer pelo fogo! Sublime
Morrer na luz,
Se foi a vida uma treva! Visse eu
O que está
Para além da névoa! E estou cansado.
Só. Só como
Todas as coisas. Mete dó. O sentimento
É peçonha.
Fúria de sentir-me neste estado! Rebento
De iracundo!
Desprezemos, então: Gritemos contra
O Mundo!
Melhor será gritar que padecer
Calado;
Se desço possa então
Tocar o fundo...

Amadora, 11/11/00

[1] Nota do Autor: De «inquisitórias» são um pouco mais…

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