Saturday, June 2, 2007

Ficções da Vida – Outro Auto-Consumo

Já me queimas por dentro.
Acaba o serviço e vem queimar por fora:

Crava-me as unhas, põe-me as mãos no ventre,
Arranca-me a víbora que há anos me devora:
É o Eterno Monstro dos Primeiros Dias,
É o Anticristo da Antemanhã;
Julgou-me o Adão, depois o Messias
E crê-me agora a própria maçã.
Já roeu a alma que sei que não tenho,
Já roeu o corpo que não sinto ter;
Mas tudo é normal; aquilo que é estranho
É que há muito, já, eu me vi morrer…

Talvez nos meus sonhos de névoa e de fumo
Tenha aparecido uma sombra encantada,
Soprando uma brisa, traçando outro rumo
P’rá minha figura já desfigurada.
Talvez essa sombra de um outro Destino,
Talvez esse gnomo, duende ou anão
Tenha chorado ao ver-me estendido
E tenha enterrado o meu coração…[1]

Lisboa, 10/11/01

[1] Nota de um Leitor Céptico: Talvez, ou talvez não…

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