II
Tenho medo do medo que me quer devorar;[1]
Meu amor, que não tenho,
Vem comigo
Ver o mar…
Ainda há tantas ondas por contar!
Lisboa, 10/11/01
II
Amigo da Fortuna
Que eu nem sequer conheço:
De onde vem o teu medo?
Que Deus te dá guarida?
Amigo da Fortuna,
Com o teu desgosto espesso:
Qual o teu segredo?
De que lado abre a tua ferida?
Amigo da Fortuna
Com a alma do avesso:
A Loucura tocou-te com que dedo?
Para quando, a tua despedida?
Do teu corpo, em que duna
Bate o mar do degredo?
Qual é o teu preço
Por andares na vida?
Lisboa, 25/04/03
III
Tenho a certeza de experimentar repulsa
Nas coisas e também
Nas sensações.
A repulsa
É um sinal de ausência
(Nos frágeis corações)
Da almejada paz
No interior.
Eu não quero a repulsa –
Por isso
Repugno
As coisas
Materiais:
Só no espírito
Há paz,
Só lá
Está o Amor:
Sarça infindável que arde os vendavais...
Lisboa, 25/04/03
IV
É este horror de ter a estupidez
E de viver à vez e à vez e à vez…
É este horror de ter a Solidão
E de ver rebentar o coração…
É este horror de ter a consciência
E de ser tudo tão imprevisível...
Mas não há mal,
Afinal,
Pois há duas certezas:
Só a Morte é Ciência;
Só a Dor é Imperecível –
Ser pó doído é a minha natureza…
Lisboa, 01/11/01
V
Não me conheço –
Quem se conhece?
Queria saber quem sou…
O que quero?
Porque quero?
Como quero?
Quanto do que quero me apetece?
A verdade,
Se existia,
Já passou…
Lisboa, 25/04/03
VI
Sou,
Não sei bem como,
Sensível à minha própria voz...
Responda o senhor:
O que tem a minha poesia?
«Tem um pouco de dor, tem um pouco de azia…»
E o que temos nós,
E o que temos nós?
«Temos o rabo entalado no fedor de uma pia…»
É aí que corre a vida,
Foi aí que Deus nos pôs...
Lisboa, 10/11/01
VII
Talvez um dia
Possamos ver o mar;
Talvez um dia
Possamos apostar
Um pouco mais em nós;
Talvez um dia
Haja lugar
P’r’á nossa própria voz:
A Liberdade de Mim só me dá pelo cós...
Lisboa, 10/11/01
VIII
A dor é feita de pequenos nadas…
Lisboa, 24/10/03
IX
A materialização das coisas
É a perdição das coisas.
O prazer está no eterno e o eterno é o espírito.
O segredo vital do nosso amor imperecível
É termos sabido nunca o consumar…
Lisboa, 10/11/01
X
Mas consome-me amor
Que eu quero a combustão!
Mas come-me amor
Que eu quero a perdição!
Mas bebe-me amor
Que eu quero secar!
Lisboa, 25/04/03
[1] Nota do Autor: Versão Alternativa: Assustar.
Saturday, June 2, 2007
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