Wednesday, June 13, 2007

Cara-Metade

I

Ganho-me,
Perco-me,
Transformo-me,
Procuro-me inconstante nas experiências
Que ensaio,
Provo e desvario;
Um medo que não temo;
Um calafrio;
Procuro um jogo,
Um coito,
Um parceiro com quero brincar às escondidas.

Escondo-me.
Perco-me.
Encontro-me. – (Mas serei eu?) –
Sinto que me falta sempre qualquer parte...

Sei que faltas tu
Que eu imagino –
Meu outro ser
Meu outro eu
Minha outra vida,
Minha especial cara-metade…

Lisboa, 16-03-98

II

São horas de escuro; há um pouco de trágico –
Que pesar!
Sinto-me (tanto!) em baixo e abatido.
Preciso urgentemente de encontrar
O clássico tu mágico
A quem se possa dizer:
« Quero estar contigo
Para sempre, quem sabe,
Se durarmos sempre
Se existir um sempre
No teu dicionário
Para me aturares
E eu te aturar
E nos vivermos um ao outro como somos
Sem nos querermos mudar.
Eu amaria o teu sorriso viciado
E tu amarias os meus versos programados
Para mudar o Mundo.
Não precisavas de chorar quando eu estivesse triste
E eu não precisava de rir quando tu risses,
E assim,
Aos poucos,
Completar-nos-íamos
Em tudo:
Tu gostarias de mim
Por eu ser louco,
E eu rir-me-ia de ti, com gosto,
Sempre que previsses o futuro...».

Lisboa, 21-09-97

III

Voltaram as Cruzadas.
Não procuramos o Graal.
Buscamos apenas o que falta de nós.
Queremos a coroa
Da nossa cara,
O outro lado
Da nossa voz.
E juramos aqui, sobre esta espada,
Que seremos capazes de tudo:
Desceremos aos Infernos se mandarem,
Iremos até ao fim do Mundo!

Lisboa, 28-03-98

IV

Surgiste quando eu já não esperava.
Quando até já negara que viesses.
Não julguei nunca que saísses do sonho.
Não te pensei possível e afinal….

Sou um vulcão (repara) e isto é lava.
O que não existe ouviu as minhas preces.
O que nada pode pôs-te onde me ponho.
O que é só Ideia tornou-te real.

Lisboa, 20/03/02

V

O meu amor fechou-se subtil como as palavras –
O meu amor é daqueles que nunca revela o seu mundo.
Espera amor! – Fecharemos juntos este livro imundo;
Folhearemos, rasgaremos juntos estas páginas!

O meu amor! Fechou-se subtil como as palavras!
Guardou-se a sós na terra que nos espanta!
Espera amor! Fecharemos juntos esta campa!
Choraremos juntos estas mágoas!

O meu amor fechou-se subtil. Como as palavras
Encarcerou-se nesses manuscritos,
Contos apócrifos de parcas existências.

O meu amor fechou-se. Subtil como as palavras
Bebeu-se em sangue lúbrico dos ritos;
Espera amor! Parimos juntos a sobrevivência!

Lisboa, 16-03-98

VI

Senti que me faltavas.
Esperei-te.
Procurei-te.
Encontrei-te
E vivemos

Cavámos esta cova
Juntos
E morremos.

Enterrámo-nos no chão
Que descobrimos,
E sorrimos.

Podem vir ver-nos
E desenterrar-nos. –

Encontrar-nos-ão
A apodrecer unidos...

Lisboa, 28-03-98

No comments: