Não devias ter vindo.
Estava a tentar esquecer-te.
Na verdade já tinha conseguido conceber um naufrágio onde te afundavas
E lamentavelmente padecias sob a força das águas.
Naturalmente chorei-te:
Uma mulher tão bonita e tão nova! – Pensei com os restantes convivas – Que dor de [alma!
E chorámos todos.
Foi depois a vez do padre:
Sacrementou-te, latinizou-te, perdoou-te o imperdoável;
E a terra comeu-te.
Foi bonito…
Por volta das duas fomos beber e comer.
Os mais alegres contaram umas anedotas.
Os mais tristes riram-se.
A tarde passava agradavelmente.
O sol brilhava.
Um ou outro corvo pousava sobre as campas,
Saltitando,
Rebicando,
Esvoaçando.
Um ou outro fato preto punha flores na terra que te cobria.
Sentiu-se paz. Dormi. Foi um bom dia.
Mas hoje reapareces como um fantasma para recuperar os movéis que nem são bem teus,
E para rasgar o retrato em que sorrimos juntos,
E para exigir a tua presença material onde ela não pode existir.
Chegaste mesmo a falar.
Chegaste mesmo a proferir palavras com uma voz metálica e um desdém nos lábios.
Não me lembro exactamente como foi.
Eu tinha acabado de acordar, alucinava…
Balbuciei «Amo-te»
Suplicante, patético, infeliz.
Olhas-te-me de lado, de forma glaciar.
Sibiláste: «Vai para o Diabo!»
Estive mesmo para responder:
«A sério!, eu tentei!,
Mas ele não me quiz…»
Achei porém que te ririas de mim.
Por isso calei-me.
Tu, por tua vez, tiraste o que querias e foste embora sem me dizer mais palavra.
Foi então que me ri de mim próprio.
Bruxelas, 13/05/04
Thursday, June 28, 2007
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