Não. Não é um poema.
Porque nas margens livres de um poema
A linguagem flúi como se de um rio se tratasse;
E não há frases mas versos,
(E o verso vale a pena!)
Sentidos, não pensados,
Qual brisa sobre a face.
Mas as palavras estão presas neste texto
Por cordéis de inépcia e de protesto.
As palavras estão atadas com desprezo
E qualquer coisa mais que cheira a medo
E sobra do seu resto.
Não. Não é amor.
O amor é uma partilha
De algo que não se conhece
Mas que desperta vulcões.
E aqui não se divide,
Apenas se coincide
Egoísmo e Traições.[1]
E, se há duas mãos, estão velhas
E são as mãos de um só corpo,
Uma casa já sem telhas,
E um coração tão morto
Que a alma luta sozinha.
Por um descanso ou um porto
(E um porto não se avizinha!)
Mas Não. Não é repouso.
Nem há gozo que valha isto que sinto!
É apenas uma vala, uma trincheira
Onde pugno Guerras Mundiais
Por ânsias que consistem em ter mais,
Apenas pelo júbilo indistinto
De possuir o que outros não me dão.
Apenas pelo gáudio com que minto
À minha singular Introspecção![2]
Cavei a vala com estas letras feias
Destes meus versos pouco originais,
Para acalmar a minha Inquietação,
Para sossegar[3] as minhas veias…
Não é amor: São ódios viscerais!
E dizem p‘r’áí que amar é fácil.
E que faz bem o Bem a quem o sente;
Que o afecto por outro traz calor
E que é em dar que se acha a Liberdade –
Que qual perfume invade
Seja quem fôr, onde fôr:
Mas como causar pode, em seu favor,
Nos corações Humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Não, não é um poema.
Num poema a vida vale a pena.
Não. Não é amor:
É só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor
Só a dor…
E nunca amar, porém, soube melhor…
01/04/01
Saturday, June 2, 2007
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