Thursday, June 7, 2007

Sugestão

Já que todos os métodos falharam
(Mesmo aqueles que julgámos mais absurdos),
Vamos ser quais barcos que encalharam
Em rochedos p’ra lá do fim do Mundo;

Já que não resulta o comprimido
Ou a droga simples do café,
Dêmos, do corpo, o que resta, por vendido
E desmontemos o velho estaminé;

Já que a carne está p’ra lá dos ossos
E que os ossos estão além da pele,
Enlacemos cordas aos pescoços
E subamos por eles!

Já que cansam demais as dores da vida
E não há vidas, aí, para trocar,
Vamos injectar insecticida
Na artéria pulmonar;

E, se mesmo assim, após tantos projectos,
A Morte, a própria Morte, não chegar…
Partilhamos a dor com os objectos,
E bebemos o spleen em qualquer bar?[1]

Lisboa, 20/08/01

II

E Ela um dia há-de vir,
E Ela um dia há-de estar
Aqui mesmo, onde respiro,
Seja qual for o lugar…

Lausanne, 21/09/04

[1] Nota do Autor: Versão Alternativa: Partilhemos a dor com os objectos/ (e) bebamos do spleen em qualquer bar.
O conjuntivo, denuncinado a certeza, carrega afinal tanta dúvida quanto a forma interrogativa acima escolhida. De facto, para qualquer dos casos, é necessário um consenso, e a minha esquizofrenia não acha modo de estabelecer um quorum. Cf. a política nacional e internaconal para melhor compreensão deste problema.

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