O Homem:
È noite escura e nada aqui faz sentido;
Estou à espera de alguém.
Dentro de mim ouço um grito incontido –
Mas dentro de mim não existe ninguém.
Nem onde estou, nem à minha beira;
Nem nos meus sonhos ou no meu pensamento;
O que sinto de mim é como uma esteira,
Já velha e gasta, sobre frio cimento...
A Mulher:
É dia alto e nada aqui se explica;
Há alguém que não chega.
Estou há anos sentada sobre esta barrica
E só o tédio aconchega.
Nem um doce sonho ou feliz pensamento;
Nem um formoso Lord de algibeira;
O que sinto é tanto que quase rebento
Mas sinto-o sempre da mesma maneira.
II
O Homem:
Já vai longa a espera e ainda estou comigo;
Não existe a Paz.
Mesmo assim há estrada e por isso sigo –
Já tanto me faz.
Talvez ainda encontre uma outra alma
Que se ajuste à minha.
Enquanto isso o Destino palma
A vida que tinha.
A Mulher:
Estou a sós comigo já há muito tempo –
A Paz não existe.
Porque sou Humana jamais me contento
E sou sempre triste.
Mas irei em frente pela estrada fora
Até ao Abismo.
Porque há outro Tempo para lá da Hora
E é nesse que cismo.
O Homem:
Porque há outro Tempo depois do que vivo
Viverei Além;
Nâo me importa a dor com que (hélas!) convivo
Não m’ela contém.
Nessa Terra vasta que não tem limites
Cavarei um prado.
E saciarei esses apetites
Que roubou o Fado.
A Mulher:
Oh Deus tu nos deste o mais negro fardo:
Ser mulher e mãe.
Mas há uma força que cá dentro guardo:
Viverei Além.
Nesse Mundo enorme que não tem tamanho
Porei uma flor.
E há-de ser meu esse Mundo estranho
Por ter o Amor.
Lisboa, 13/03/02
Monday, June 11, 2007
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