Monday, June 11, 2007

Poema de Convicção

O Homem:

È noite escura e nada aqui faz sentido;
Estou à espera de alguém.
Dentro de mim ouço um grito incontido –
Mas dentro de mim não existe ninguém.

Nem onde estou, nem à minha beira;
Nem nos meus sonhos ou no meu pensamento;
O que sinto de mim é como uma esteira,
Já velha e gasta, sobre frio cimento...

A Mulher:

É dia alto e nada aqui se explica;
Há alguém que não chega.
Estou há anos sentada sobre esta barrica
E só o tédio aconchega.

Nem um doce sonho ou feliz pensamento;
Nem um formoso Lord de algibeira;
O que sinto é tanto que quase rebento
Mas sinto-o sempre da mesma maneira.

II

O Homem:

Já vai longa a espera e ainda estou comigo;
Não existe a Paz.
Mesmo assim há estrada e por isso sigo –
Já tanto me faz.

Talvez ainda encontre uma outra alma
Que se ajuste à minha.
Enquanto isso o Destino palma
A vida que tinha.

A Mulher:

Estou a sós comigo já há muito tempo –
A Paz não existe.
Porque sou Humana jamais me contento
E sou sempre triste.

Mas irei em frente pela estrada fora
Até ao Abismo.
Porque há outro Tempo para lá da Hora
E é nesse que cismo.

O Homem:

Porque há outro Tempo depois do que vivo
Viverei Além;
Nâo me importa a dor com que (hélas!) convivo
Não m’ela contém.

Nessa Terra vasta que não tem limites
Cavarei um prado.
E saciarei esses apetites
Que roubou o Fado.

A Mulher:

Oh Deus tu nos deste o mais negro fardo:
Ser mulher e mãe.
Mas há uma força que cá dentro guardo:
Viverei Além.

Nesse Mundo enorme que não tem tamanho
Porei uma flor.
E há-de ser meu esse Mundo estranho
Por ter o Amor.

Lisboa, 13/03/02

No comments: