Sunday, June 24, 2007

Intensidades

«Porque ficou oceânico o escasso
Momento de nós?»[1]

Toda a nossa História: Sermos sós...

Que podes querer da vida em movimento?
Cada minuto uma fracção do que nos resta...

Somos o palco, o drama e o elenco...
Escrevemos nós a peça!

Haja festa pela noite dentro!
Haja festa! Haja festa!

Tragam os copos!
Queimem o incenso!
Vamos arder as horas mais funestas!

Ouves dançar ao fundo?
E o silêncio...
Ouves cantar ao fundo?
E a tempesta...

O mar subiu à terra,
A dôr ao coração...
Estou em guerra com a guerra
Da emoção...

Vivo em constante mutação...
Vamos viver a vida como vivem
Os brutos condenados!
Vamos viver a vida como vivem
Os loucos no hospício!
Vamos viver a vida como vivem
Os homens em delírio!
Vamos viver a vida como vivem
As extáticas bacantes!
Vamos viver simplesmente,
Avante! Avante!
É viver antes
Qu'isso da vida passe e que pereça!
Avante!, Avante!
Vamos! Antes
Que esta vontade intensa desvaneça!.

Lisboa, 26-05-98

[1] Que o sentido oculto desta difícil pergunta se procure em Luísa Neto-Jorge. Que na busca o leitor não conserve esperanças. Nesta má poetisa (em que este verso é, aliàs, dos melhores pela sua estimulante sonoridade) não deve, na verdade, procurar-se um sentido, mas apenas sentir-se e brincar com um fácil jogo de sons, fingindo a descoberta do mundo como, por norma, o fazem as crianças…

P.S.1: Eis as minhas gentis interpretações: a) Porque se dissolveu (em água) o escasso momento de nós? – isto é, da nossa existência… b) Porque se alastrou até à indefinição (profunda e misteriosa como o Oceano), a nossa escassa circunstância de ser? Aguardo apenas que a Madama Neto-Jorge se digne (se necessário da tumba) a vir agradecer-me os estoicismos: a) De ler a sua poesia; b) De, à la Madre Teresa de Calcutá (que alguém a tenha!) ou São Francisco de Assis (o do quadro de Bellini, por exemplo!), b1) A melhorar b2) A partilhar com a restante comunidade de fieis.
P.S.2: Aceito contribuição/ donativos para a minha conta bancária e/ ou estátua pedestre em praça pública.
P.S.3: Pela arrogância petulante e intolerável demonstrada nesta nota de rodapé, estou já há 35 dias em jejum, a pão e água e ainda sob um pesado sermão epsicopal de hora e meia com subsquente penitência de 700 Pais Nossos e 930 Avé-Marias. A indulgência obrigou-me igualmente a uma coima de 50 contos (o correspondente, nestes dias de progresso da ilusão europeia, a 250 euros). De facto é custoso o caminho do céu…

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